quarta-feira, 28 de junho de 2017

O discurso de Jacques Lacan

   Jacques Lacan Julho 1953

Discurso pronunciado por Lacan em Julho de 1953, na fundação da Societé Française de Psychanalyse


Meus amigos

     Vocês estão vendo que, para esta primeira comumeaçao dita científica de nossa Sociedade, escolhi um título que não carece de ambição. Antes de tudo, começo por me desculpar, pedindo-lhes que considerem esta comum'eação chamada científica antes como, por um lado, um resumo de pontos de vista, que aqueles que aqui estão, meus alunos, bem conhecem e com os quais estão familiarizados há uns dois anos, através do meu ensino; e também, por outro lado, como uma espécie de prefácio ou introdução para uma certa orientação do estudo da psicanálise.

     Com efeito, creio que o retorno aos textos freudianos que são o objeto do meu ensino há dois anos, me deu - ou melhor, nos deu, a todos que estivemos trabalhando juntos - uma idéia cada vez mais certa de que não há dimensão mais total da realidade humana do que aquela realizada pela experiência freudiana,. e que não podemos deixar de retornar às fontes e estudar esses textos em todos os sentidos da palavra. Não podemos deixar de pensar que a teoria psicanalítica (e ao mesmo tempo a técnica, já que constituem uma só coisa) não tenha sofrido uma espécie de retrocesso e, verdade seja dita, de degradação. É que na realidade não é fácil manter-se ao nível de uma tal plenitude. Por exemplo, um texto como o do "Homem dos Lobos": eu pensava tomá-lo esta tarde como base e exemplo daquilo que lhes vou expor. Mas fiz, durante todo o dia de ontem, uma releitura completa do mesmo: havia feito, a respeito dele, um seminário no ano passado e, no entanto, impôs-se-me a sensação de que era absolutamente impossível lhes dar uma idéia, ainda que aproximada, daquele texto, e de que, do meu seminário do ano passado, só havia uma coisa a fazer: retomá-lo no ano que vem.

     Pois o que percebi nesse texto formidável, depois do trabalho e do progresso que fizemos juntos este ano, em torno do texto "O Homem dos Ratos", me faz pensar que o que eu tomara no ano passado como principio, como exemplo, como tipo de pensamento característico dado por esse extraordinário trabalho era literalmente um mero "approach" (abordagem), como dizem os ingleses; dito de outro modo, um balbuciar. De modo que, em resumo, farei talvez, incidentalmente, uma breve alusão, mas tratarei sobretudo de simplesmente dizer algumas palavras sobre a exposição de um tal problema: sobre o que quer dizer o confronto desses três registros que são os registros essenciais da realidade humana, registros muito distintos e que se chamam: o simbólico, o imaginário e o real.

     Antes de mais nada, uma coisa que é, evidentemente, surpreendente e que não nos deveria escapar: ou seja, que há, na análise toda uma parte de real em nossos sujeitos, a qual, precisamente, nos escapa; que, no entanto, não escapava a Freud ao ocupar-se ele de cada um de seus pacientes. Mas certamente, ainda que isso não lhe escapasse, caía também fora de sua dimensão e alcance. Não deixaríamos jamais de nos surpreender com o fato e o modo pelo qual ele fala do seu "Homem dos Ratos", distinguindo entre suas "personalidades". Sobre isso, concluiu: "a personalidade de um homem, fino, inteligente e culto", personalidade que colocou em contraste com os outros aspectos do sujeito. Ainda que isso se atenue ao tratar do seu "Homem dos Lobos", nem por isso deixa de mencioná-lo. Ora, para dizer a verdade, não estamos obrigados a referendar todas as suas apreciações. Não parece tratar-se, no Homem dos Lobos, de alguém com tanta classe. Mas o surpreendente é que ele o enfatiza como um ponto em particular. Quanto à sua Dora, nem há o que falar, se até podemos dizer que a amou.

     Portanto, há em tudo isso algo que, evidentemente, não deixa de nos causar impacto e que é, em suma, algo que constantemente nos concerne. Eu diria que este elemento direto, que este elemento de peso, de apreciação da personalidade, é algo bastante inefável ao qual temos que nos ater no registro do mórbido, por um lado, bem como no registro da experiência analítica com sujeitos que de modo algum caem no registro do mórbido: é algo que, em resumo, sempre teremos que cuidar e que está presente, particularmente, na experiência dos que estão encarregados da pesada tarefa de eleger os que se submetem à análise com fim didático. Em suma, o que poderíamos dizer de tudo? Quando expressamos, ao término de nossa seleção, todos os critérios que se invocam (é necessária a neurose para fazer um bom analista? Um pouquinho dela? Muito? Nem um pouco, em absoluto?) Mas afinal, é isso o que nos guia num juízo que nenhum texto pode definir, e que nos faz apreciar as qualidades pessoais desta realidade? Poderiam se reduzir a isso: que significa que um sujeito tenha ou não tenha massa, que seja, como dizem os chineses ("she-un- ta") um homem de grande talhe, ou ("sha-o-yen”), um homem de pequena estatura? É algo que - é necessário dizê-lo - constitui os limites de nossa experiência. É nesse sentido que se pode dizer, para expor a questão do saber que entra em jogo na análise: De que se trata? Acaso, esta relação real do sujeito - segundo um certo modo e segundo nossas medidas de reconhecimento - é sobre isso que devemos trabalhar na análise? Certamente que não. Trata-se, indubitavelmente, de outra coisa. E aqui está a pergunta que colocamos sem cessar e que é colocada por todos os que pretendem formular uma teoria da experiência analítica. O que é essa experiência singular entre todas, que vai trazer transformações tão profundas para os sujeitos? E que são essas transformações? E qual é a sua saída?

     A elaboração da doutrina analítica, há anos, aponta para a resposta a essa pergunta. E é certo, por outro lado, que o homem comum não parece se assombrar com a eficiência dessa experiência que se desenvolve integralmente em palavras; e, em certo sentido, no fundo ele tem razão, já que, com efeito, funciona, e para explicá-la pareceria que não teríamos mais do que demonstrar seu movimento em marcha. "Falar" já é introduzir-se no sujeito da experiência analítica. É ali, efetivamente, que se torna útil antes de mais nada expor a pergunta: o que é a palavra, isto é, o símbolo?

     Na verdade, aquilo a que assistimos é, antes, um evitamento desta pergunta. E certamente o que constatamos é que ao reduzi-Ia (não querendo ver nos elementos e nos recursos propriamente técnicos da análise mais do que algo que deve aceder, por uma série de aproximações, à modificação de condutas) a mecanismos, costumes do sujeito, desembocamos rapidamente num certo número de dificuldades e de impasses, a ponto de não poder - com certeza - situá-los no conjunto de um estudo total da experiência analítica; mas, por prosseguir nesse sentido, orientamo-nos inevitavelmente para um certo número de impenetráveis que se nos opõem e que tendem a transformar, a partir daí, a análise em algo que se manifesta como muito mais irracional do que realmente é.

     É surpreendente ver-se quantos iniciantes na experiência analítica têm expressado, em suas primeiras declarações sobre suas experiências, a questão do caráter irracional dessa análise, precisamente quando talvez, ao contrário, não haja técnica alguma que seja tão transparente.

     Somos abundantes em apreciações psicológicas mais ou menos parciais do sujeito paciente; falamos de seu "pensamento mágico"; falamos de todo tipo de registros que têm, sem dúvida, valor e são reencontrados de modo muito vivo pela experiência analítica. Daí a pensar que a própria análise se dê no registro do pensamento mágico não há mais que um passo, rapidamente franqueado quando não se toma como ponto de partida e como referência desde o início a questão primordial: o que é esta experiência da palavra? E, quando não se levanta ao mesmo tempo a questão da experiência analítica, a questão da essência e do intercâmbio da palavra.

     Creio que o ponto do qual se deve partir é o seguinte:

     Partamos da experiência, tal como nos foi apresentada nas primeiras teorias sobre a análise: O que é este "neurótico" ao qual devemos nos ater na experiência analítica? O que irá ocorrer nesta experiência? E esta passagem do consciente ao inconsciente? E quais são as forças que dão a este equilíbrio uma certa existência? Nós o chamamos de princípio de prazer.

     Para sintetizar diremos com F. de Saussure que "o sujeito alucina seu mundo", ou seja, suas ilusões ou suas satisfações ilusórias não podem ser de todas as ordens. Evidentemente ele vai desviá-las para uma outra ordem que não a das suas satisfações, as quais encontram seu objeto no real puro e simples. Jamais um sintoma acalmou-a fome ou a sede de modo duradouro, senão por meio da absorção de alimentos que as satisfizessem, ainda quando uma baixa geral do nível da vitalidade possa, em casos limites, ser a resposta; por exemplo: a hibernação, natural ou artificial. Tudo isso é concebível apenas como uma fase que de certo não poderá durar sem o risco de danos irreparáveis.

     A própria reversibilidade dos problemas neuróticos supõe que a economia das satisfações por ela implicadas seja de outra ordem, e infinitamente menos ligada a ritmos orgânicos fixos, ainda que certamente determinando uma parte destes. Isso define a categoria conceitual que resolve este tipo de objeto. É justamente aquilo que estou em vias de definir: o imaginário, se aceitarmos e reconhecermos todas as implicações que lhe são apropriadas.

     A partir daí é muito simples, claro, fácil ver que este tipo de satisfação imaginária não pode ser encontrado senão na ordem dos registros sexuais. Tudo está dado a partir dessa espécie de condição prévia da experiência analítica. E não é assombroso ainda que, certamente, deva ser confirmado (controlado, eu diria) pela experiência, que, uma vez feita, faz com que as coisas pareçam corresponder a um perfeito rigor.

     O termo "libido" é uma noção que só faz expressar a noção de reversibilidade, a qual por sua vez implica na de equivalência, em certo metabolismo das imagens; para poder pensar essa transformação é necessário um termo energético para o qual serviu o termo "libido". Trata-se decerto de algo complexo. Quando digo "satisfação imaginária" não é evidentemente o simples fato de que Demétrius se tenha satisfeito com sonhar que possuía a sacerdotisa cortesã... ainda que este caso não seja apenas um caso particular no conjunto... Mas sim que isso é algo que vai mais além e que está atualmente recortado por toda uma experiência que é aquela evocada pelos biólogos a respeito dos ciclos instintuais, muito especialmente nos registros dos ciclos sexuais e da reprodução; a saber que, à parte os estudos ainda mais ou menos incertos e improváveis tocantes aos conectores neurológicos no ciclo sexual, está demonstrado que estes ciclos, nos animais, respondem a fenômenos denominados pelo mesmo termo que é utilizado para designar os problemas e os recursos sexuais primários dos sintomas nos próprios sujeitos, ou seja, o "deslocamento".

     O que mostra o estudo dos ciclos instintuais nos animais é, precisamente, que são essencialmente de ordem imaginária e constituem o que há de interessante neste estudo, a saber, que seu limite, que sua definição, a maneira de precisá-lo fundamentado sobre um certo número de experiências até um determinado limite de desvanecimento, são suscetíveis de provocar no animal essa espécie de ereção parte do ciclo do comportamento sexual do qual se trata. E o fato de que no interior de um ciclo de comportamento determinado, seja sempre suscetível, a aparição, sob certas condições, de um determinado número de deslocamentos; por exemplo, num ciclo de combate o brusco aparecimento, no retorno deste ciclo (nos pássaros por exemplo um dos combatentes começa a alisar as plumas) de um segmento do comportamento de ostentação que intervirá no meio de um ciclo de combate.

     Poderiam dar-se mil exemplos mais. Não estou aqui para enumerá-los, Isto é simplesmente para dar-lhes a idéia de que este elemento de deslocamento é um recurso absolutamente essencial de ordem e sobretudo da ordem dos comportamentos ligados à sexualidade. Sem dúvida, estes fenômenos não são eletivos, nos animais, mas outros comportamentos (conforme os estudos de Lorenz sobre as funções da imagem no ciclo da alimentação) mostram que o imaginário desempenha um papel importante na ordem dos comportamentos sexuais. E por outro lado, no homem, é sempre e principalmente neste plano que nos encontramos frente a este fenômeno.

     Desde o início assinalamos, pontuamos o exposto com o seguinte: que os elementos de comportamentos instintuais deslocados no animal são suscetíveis de alguma coisa na qual vemos o esboço do que chamamos um "comportamento simbólico".

     O que chamamos no animal de um comportamento simbólico é o que, quando um desses segmentos deslocados adquire valor socializado, serve ao grupo animal de ponto de referência para um certo comportamento coletivo.

     Assim dizemos que um comportamento pode ser imaginário quando sua oscilação entre imagens o torna suscetível de deslocamento fora do ciclo que assegura a satisfação de uma necessidade natural.

     A partir disso, o conjunto que se articula na raiz do comportamento neurótico pode ser definido e elucidado no plano da economia instintiva, tendo em conta que sempre se refere a um comportamento sexual.

     Voltaremos a isto, apenas para indicar brevemente o fato de que um homem possa ejacular à vista de um sapato, é algo que não nos surpreende, como tampouco que um a utilize para levar a sua consorte a melhores sentimentos, mas seguramente, a partir daí, ninguém sonharia que um sapato possa servir para apaziguar a excitação extrema de um indivíduo. É a isso que devemos constantemente nos ater: as fantasias. Na ordem do tratamento, não é raro que o paciente, o sujeito, faça intervir no curso da análise uma fantasia tal como a da "felação do parceiro do analista". Trata-se, também aqui, de algo que vamos introduzir num ciclo arcaico de sua biografia de maneira qualquer? Uma anterior sub-alimentação? É evidente que qualquer que seja o caráter incorporativo que damos a essas fantasias jamais pensaríamos em tal sub- alimentação. Como entendê-lo?

     Pode significar muitas coisas. Com efeito, é necessário levar em conta que o imaginário está por um lado longe de confundir-se com o domínio do analisável e, por outro lado, pode existir outra função que não a imaginaria. Não é porque o analisável coincida com o imaginário que o imaginário se confunde com o analisável, que é o exclusivamente analisável, e que seja inteiramente o analisável ou o analisado.

     Para tomar o exemplo de nosso fetichista, apesar de que seja raro, se admitirmos que ali se trata de uma espécie de perversão primitiva, não é impossível visualizar casos parecidos. Suponhamos que se tratasse de um desses deslocamentos imaginários, tal como encontramos realizados nos animais. Suponhamos, em outros termos, que o sapato seja aqui estritamente o deslocamento do órgão feminino, já que é mais comum no macho que se encontre o fetichismo. Se, literalmente, não houvesse nada que pudesse representar uma elaboração a respeito deste dado primitivo, seriam igualmente inanalisáveis certas:fixações perversas. Inversamente, para falar de nosso paciente ou sujeito, se pensarmos nele como presa de uma fantasia, estamos colocando-o como algo que tem um sentido muito diferente e neste caso está bem claro que se essa fantasia pode ,ser considerada como algo que representa o imaginário, é porque pode representar certas fixações num estado primitivo oral da sexualidade. Em outras palavras, não diremos que sua prática de felação seja constitucional.

     Entendo pois que aqui, na fantasia em questão, o elemento imaginário não tem a rigor mais do que um valor simbólico que devemos apreciar e compreender em função do momento de análise em que se insere. Com efeito, ainda quando o sujeito retém sua confissão, a fantasia surge num momento preciso de diálogo analítico. Está aí para expressar-se, para ser direta, para simbolizar algo, e algo que difere segundo o momento do diálogo.

     Que dizer então? Que não basta que um fenômeno represente um deslocamento, dito de outra maneira, se inscreva entre os fenômenos imaginários, para que seja analisável e que, para que o seja, é necessário que represente outra coisa que a si mesmo.

     Para abordar o tema em questão, ou seja, o simbolismo, direi que toda uma parte das funções imaginárias na análise não tem outra relação com a realidade fantasística que elas manifestam, que, por exemplo, a que tem a sílaba "po" (na palavra pote) com as formas, perfeitamente simples, do jarro que ela designa. Como podemos facilmente ver no fato de que em "polícia" ou poltrão" esta sílaba "po" tem totalmente outro valor. Podemos utilizar o "pote" para simbolizar a sílaba "po” inversamente no termo "polícia” ou "poltrão", mas convém acrescentar ao mesmo tempo, neste caso, outros termos igualmente imaginários que não seriam tomados por outra coisa, senão, como sílabas destinadas a completar a palavra.

     Deste modo é necessário entender o simbólico em jogo no intercâmbio analítico, tendo em conta que o que nele encontramos, e estamos definindo, é o que Freud definiu como sua realidade essencial, quer se trate de sintomas reais, atos falhos e tudo quanto nele se inscreva; trata-se ainda e sempre de símbolos, e de símbolos muito especificamente organizados na linguagem, que por conseguinte funcionam a partir desse equivalente do significante e do Significado: a estrutura mesma da linguagem.

     Não me pertence a expressão: "o sonho é uma charada"; pertence a Freud. E o fato de o sintoma expressar, também ele, algo estruturado, organizado como uma linguagem, é manifestado a partir de que o sintoma histérico engloba sempre um equivalente de uma atividade sexual, mas nunca um equivalente plurívoco, superposto, sobredeterminado e, para dizer tudo, construído segundo modelo exato das imagens dos sonhos, as quais representam uma competência, uma superposição de símbolos tão complexa como uma frase poética, a qual por sua vez vale por seu tom, sua estrutura, suas modulações, seu ritmo, sua sonoridade, por conseguinte e essencialmente, sobre vários planos, na ordem e no registro da linguagem.

     Para dizer a verdade, isto não nos aparecerá em seu relevo, se não tentarmos ver, apesar de tudo, que é algo inteiramente próprio da linguagem.

     Certamente não estamos aqui para fazer um delírio coletivo, nem organizado, nem individual, sobre o problema da origem da linguagem, já que é um tema que se presta muito bem a este tipo de delírios. A linguagem está aí, é um emergente. E agora que emergiu, não saberemos jamais nem quando nem como começou, nem como eram as coisas antes que ela existisse.

     Mas no entanto, como expressar esse algo que deve, talvez, haver se apresentado como uma das formas mais primitivas da linguagem? Pensem nas contra-senhas. Vejam, escolho a propósito este exemplo, justamente porque o erro e as miragens, quando se trata da linguagem, baseiam-se sempre em crer que sua significação é a que ela designa. Mas não é assim, Evidentemente, designa algo, mas antes de fazê-lo cumpre uma certa função. E escolho a contra-senha porque tem essa propriedade de ser escolhida de maneira inteiramente independente de sua significação, e essa significação é a de designar a quem a pronuncia como tendo tal ou qual propriedade em resposta à pergunta que motivou a palavra. Alguns dirão que o exemplo está mal escolhido, já que foi tomado no interior de uma convenção. Mas é precisamente nisso que reside seu valor. Por outro lado, não podemos negar que a contra-senha tem a mais preciosa das virtudes, serve simplesmente para evitar que sejamos mortos.

     É por isso que podemos considerar a linguagem como tendo uma função. Nascida entre esses animais ferozes que devem ter sido os homens primitivos (a julgar por nossos contemporâneos, não é tão inverossímil), a contra-senha não é justamente aquilo mediante o qual "se reconheciam os homens do grupo", senão aquilo mediante o qual "se constitui o grupo".

     Há um outro registro em qual se pode meditar a respeito desta função da linguagem; é o da linguagem estúpida do amor, que consiste no último grau do espasmo, do êxtase - ou ao contrário da rotina, segundo os indivíduos - a qualificar repentinamente seu companheiro sexual com o nome de algum legume ou de um animal repugnante. Isto expressa também algo que não está longe de tocar o problema do horror ao anonimato. Não é por nada que tal ou qual destas apelações, animal ou suporte totêmico, se encontra na fobia. É evidente que há, entre os dois, algum ponto em comum: o sujeito humano está especialmente exposto, como veremos em seguida, a este tipo de vertigem que aparece e experimenta a necessidade de afastá-lo, a necessidade de fazer algo que o transcenda. E é disso que se fala na origem da fobia.

     Nestes dois exemplos, a linguagem está particularmente desprovida de significação. Neles podemos ver o que diferencia o símbolo do signo, a saber, a função inter-humana do símbolo. Trata-se de algo que nasce com a linguagem e que faz com que, depois de cada palavra (é precisamente para o que serve a palavra) ter sido pronunciada, os dois companheiros passam a ser outra coisa que antes. Isto, apoiando-nos no mais simples dos exemplos.

     Por outro lado se equivocariam ao crer que estes não são exemplos particularmente plenos. Seguramente a partir destas parcas observações, poderão perceber, que tanto na contra-senha, quanto na palavra chamada amor, trata-se de algo que no fim das contas está cheio de conotações. Digamos que a conversação que num momento dado de sua carreira de estudantes tenham tido (digamos, num jantar, por exemplo), onde a maneira e a significação das coisas intercambiadas tem esse caráter comum às conversas da rua ou do coletivo, não é outra coisa senão uma certa maneira de se fazer reconhecer, o que justificaria a Mallarmé quando diz que a linguagem é comparável a essa moeda sem valor que se passa de mão em mão em silêncio?'.

     A partir daí, vejamos pois de que se trata já que, em suma, é o que se estabelece quando um neurótico chega à experiência analítica.

     Ele também começa dizendo coisas. Diz coisas, e as coisas que diz não devem surpreender-nos, no início, não são mais que palavras de pouco peso. Porém há algo que é fundamentalmente diferente: é o fato de que eles vêm ao analista por outra razão além de dizer bobeiras e banalidades; que, desde o início, na situação já está implicado algo. E algo que não é banal, visto que, em suma, é seu próprio sentido o que vêm procurar; é que existe algo nitidamente colocado sobre a pessoa que o escuta.

     Certamente, avança nesta experiência, nesta via original, antes de mais nada, com tudo o que têm à sua disposição: a saber, com a crença, de que deve, se fazer de médico, informar o analista. Certamente vocês, têm sua experiência cotidiana; levando-a a seu nível, digamos que se trata, não de fazer isso, mas de falar, e de preferência sem procurar interferir na ordem da organização, isto é, interferir segundo um narcisismo bem conhecido, no lugar de seu interlocutor. Afinal de contas, a noção que temos do neurótico é que, em seus próprios sintomas, se trata de uma “palavra amordaçada”, pela qual se expressa um certo número de transgressões de uma certa ordem, que por si mesmas são gritantes pela ordem negativa na qual se inscrevem. Por não ter realizado a ordem do símbolo de uma maneira viva, o sujeito realiza imagens desordenadas cujo substitutivo elas são. E é, certamente, isso o que vai antes de tudo e desde já, se interpor a toda relação simbólica verdadeira.

     O que o sujeito expressa antes de tudo, e desde o começo quando fala, é esse registro que chamamos de "resistências"; o que não se pode interpretar de outra maneira que a de uma realização "aqui e agora", na situação com o analista, da imagem ou das imagens que são as da experiência precoce.

     E é sobre este ponto que se edifica toda a teoria da resistência e, isso, somente depois do reconhecimento do valor simbólico do sintoma e de tudo aquilo que pôde ser analisado.

     A experiência prova e demonstra, justamente, algo mais que a realização do símbolo; é a tentativa do sujeito, de construir "aqui e agora", na experiência, esta referência imaginária que denominamos: as tentativas do sujeito de fazer entrar o analista em seu jogo. O que vemos, por exemplo, no caso do Homem dos Ratos, quando percebemos (rápida, mas não imediatamente, assim como Freud também não) que ao relatar sua história obsessiva, com grande ênfase no suplício dos ratos, há uma tentativa do sujeito de realizar “aqui e agora”, (aqui e com Freud), essa espécie de relação sádico-anal imaginária que constitui por si mesma o sabor da história. E Freud percebeu que se trata de algo que se traduz e se trai fisionomicamente, na cara, na expressão do sujeito, posto que o qualifica nesse momento: o horror do gozo ignorado.

     A partir do momento em que estes elementos da resistência são referidos à experiência analítica, que se os pode medir, pesar como tais, se constitui um momento significativo na história da análise. E, podemos dizer que é a partir do momento em que se soube falar a respeito de um modo coerente (no momento por exemplo, do artigo de Reich, um dos primeiros a respeito aparecido no International Journal), que Freud faz surgir o segundo momento de elaboração da teoria analítica: algo que representa, nada mais, nada menos, que a teoria do eu: nessa época aparece “das Es” (o Isso, em alemão no original, o Id); e naquele momento começamos a perceber no interior (é preciso mantê-lo sempre no interior do registro da relação simbólica) que o sujeito resiste; que essa resistência não é como uma simples inércia oposta ao movimento terapêutico, como se poderia dizer em física que a massa resiste a toda aceleração. É algo que estabelece certo laço, que se opõe como tal, como uma ação humana, à do terapeuta; mas, com esta precisão: é necessário que o terapeuta não se engane. Não é a ele, terapeuta, enquanto realidade que ela se opõe, senão na medida em que, em seu lugar, está realizada uma certa imagem que o sujeito projetou sobre ele.

     Na verdade, estes são apenas termos aproximativos.

     É também nesse momento que nasce a noção de pulsão agressiva, que é necessário associar à libido o termo “destruição”; e isto não sem motivo. É que, a partir do momento em que sua meta é decifrar as funções totalmente essenciais dessas relações imaginárias, tal como se apresentam sob a forma de resistência, aparece outro registro que não está ligado a nada menos que a função própria que coloca o eu nessa teoria do eu, de que não tratarei hoje, e que é absolutamente necessário diferenciar em toda noção coerente e organizada do eu da análise; a saber o eu como função imaginária do “moi”, como unidade do sujeito alienado a si mesmo: do “moi” como aquilo no qual o sujeito não pode reconhecer-se a não ser alienando-se, e por conseguinte não pode reencontrar-se, a não ser abolindo o alter ego do “moi”, o que como tal, desenvolve a dimensão, muito diferente da agressão, que denominaremos agressividade. Acredito que agora nos é necessário retomar o problema nestes dois registros: a questão da palavra e a questão do imaginário.

     A palavra, tenho mostrado de forma abreviada, desempenha esse papel essencial de mediação. De mediação, quer dizer, de algo que intercambiam as duas partes em presença. Isso não tem, por outro lado, nada que não nos seja dado até no registro semântico de certos grupos humanos. E se vocês lerem (não é um livro que mereça todas as recomendações, mas é bastante expressivo como manual e excelente como introdução para quem necessita) o livro de Leonhardt Dokano, verão que entre os Canacos se produz algo bastante particular no plano semântico, ou seja, que o termo “palavra” significa algo que vai muito mais longe do que nós designamos. Alude ainda a uma ação. E por outro lado, entre nós a "palavra dada” é uma forma de ato. Mas é igualmente algumas vezes um objeto, ou seja, algo que se perde, um feixe. É não importa o que. Mas entre eles por momentos designa um objeto, algo que se leva, um feixe... É qualquer coisa. Mas, a partir daí, existe algo que não existia antes. Conviria também fazer outra observação: é que a palavra mediadora não o é pura e simplesmente nesse nível elementar, posto que permite transcender a relação agressiva fundamental ao espelhamento do semelhante. É necessário que seja mais que isso porque, se refletirmos, veremos que constitui não só a mediação, mas também a realidade em si mesma: isto é evidente, se considerarem o que denominamos uma estrutura elementar, quer dizer, arcaica do parentesco. Longe de serem elementares, não o são sempre. Por exemplo, o fato especialmente complexo (na verdade estas estruturas complexas não existiriam sem o sistema de palavras que as expressam) de que, entre nós, as interdições que regulam o intercâmbio humano de alianças, no sentido, próprio da palavra, se reduzem a um número excessivamente restrito, tendem a nos fazer confundir, palavras como "pai, mãe, filho..." com relações reais.

     É porque o sistema de relações de parentesco, por sua própria constituição, foi extremamente reduzido em seus limites e em seu campo. Mas, se vocês fizessem parte de uma civilização onde não pudessem desposar tal ou qual prima em 7º grau por ser considerada como prima paralela, ou inversamente, como prima cruzada, ou encontrando-se com vocês em uma certa homonímia que retorna cada três ou quatro gerações, perceberiam que a palavra e os símbolos têm uma decisiva influência na realidade humana, e é precisamente porque as palavras têm exatamente o sentido que eu lhes decreto. Como diria Humpty Dumpty em Lewis Caroll, quando se lhe pergunta "por que?” e dá essa resposta admirável "porque sou o amo".

     Digamos que, em princípio, é evidente que é o homem com efeito quem dá seu sentido à palavra. E que, se posteriormente as palavras se encontram no comum acordo da comunicabilidade, quer dizer, que as mesmas palavras servem para reconhecer a mesma coisa, é precisamente em função de relações, de uma relação de partida, que permitiu a essas pessoas serem pessoas que comunicam. Em outros termos, não é absolutamente questão, salvo em uma percepção psicológica expressa, de tentar deduzir como as palavras saem das coisas e lhes são sucessiva e individualmente aplicada, mas sim de compreender que é no interior do sistema total do discurso, do universo de uma linguagem determinada, que comporta, por uma série de complementariedades, um certo número de significados; o que tem que significar, a saber, as coisas, é preciso acomodá-las, dando-lhes um lugar.

     É assim que as coisas, através da história, se constituem. É o que torna particularmente pueril toda a teoria da linguagem, já que haveria que compreender o papel que está em jogo na formação dos símbolos. Por exemplo, a teoria dada por Masserman, que fez a respeito (no International Journal of Psychoanalysys, 1944) um belo artigo cujo título é: “Language, behaviour and dynamic psychiatry". É evidente que um dos exemplos que dá mostras suficientemente da Fragilidade do ponto de vista behaviorista. Pois é disso que se trata nesta oportunidade. Acredita resolver a questão do simbolismo da linguagem dando este exemplo: o condicionamento que terá efeito na reação de contração da pupila à luz, regularmente produzido em simultaneidade com uma campainha. Suprimimos a excitação da luz e obtemos a contração da pupila quando agitamos a campainha. Terminaríamos obtendo a contração pela simples audição da palavra "contract". Vocês acreditam que com isso resolveram o problema da linguagem e da simbolização? Mas está bem claro que se, no lugar de "contract" houvesse outra coisa, teríamos podido obter exatamente o mesmo resultado. E não se trata do condicionamento de um fenômeno e sim dos sintomas da relação do sintoma com todo o sistema da linguagem. Quer dizer, o sistema das significações inter-humanas como tais.

     Creio que o eixo do que acabo de lhes dizer é o seguinte: o que é que constatamos, e em que consiste o recorte que faz a análise dessas observações mostrando, até em seu último detalhe, o seu alcance e presença?

     É nem mais nem menos que isto: que toda relação analisável, quer dizer, interpretável simbolicamente, está sempre mais ou menos inscrita numa relação de três. Já vimos isso na estrutura da própria palavra: mediação entre tal e qual sujeito no libidinal realizável; o que nos mostra a análise, e o que dá seu valor a este fato, afirmado pela doutrina e demonstrado pela experiência é que finalmente nada se interpreta, porque é disso que se trata na intermediação da realização edípica. É esse o sentido. Quer dizer que toda relação a dois está mais ou menor, marcada pelo estilo do imaginário; e que, para que uma relação assuma seu valor simbólico, é necessário que tenha a mediação de um terceiro personagem que realize, em relação ao sujeito, o elemento transcendente graças ao qual sua relação com o sujeito possa ser mantida a uma certa distância.

     Entre a relação imaginária e a relação simbólica, está a distância da culpa. É por isso, a experiência mostra, que a culpa sempre é preferível à angústia. A angústia em si mesma está, desde já o sabemos pelo progresso da doutrina e da teoria de Freud, sempre ligada a uma perda, quer dizer, a uma transformação do eu, ou seja, a uma relação dual prestes, a desvanecer-se e à qual deve suceder algo mais que o sujeito não pode abordar sem uma certa vertigem. Eis aí o registro e a natureza da angústia. A introdução do terceiro. E na relação narcísica introduz a possibilidade de uma mediação real, essencialmente pela intermediação do personagem que, com relação ao sujeito, representa um personagem transcendente, dito de outro modo, uma imagem de mestria por meio da qual seu desejo e seu cumprimento podem realizar-se simbolicamente.

     Neste momento intervém outro registro, que é justamente denominado, ou bem da lei, ou bem da culpa, segundo o registro em que é vivido. (Notarão que abrevio um pouco; esse é o termo. Estimo, ao abreviar, não despistá-los com isso, posto que se trata, aqui ou em nossas reuniões, de coisas muito repetidas).

     O que gostaria de sublinhar referente a este registro do simbólico é porém importante. É o seguinte: quando se trata do simbólico, isso diz respeito àquilo no qual o sujeito se compromete numa relação propriamente humana; quando se trata de um registro do “je”, trata-se de um compromisso: em “eu quero ... eu amo”, há sempre algo, literalmente dito, de problemático, quer dizer, de um elemento temporal muito importante a ser considerado. Para o que aponto? Isto coloca toda uma série de problemas que devem ser tratados paralelamente ao problema da constituição temporal da ação humana é absolutamente inseparável da relação do simbólico e do imaginário. Mesmo que não possa resolvê-la em toda sua amplitude esta noite, é necessário pelo menos indicar que a encontramos sem cessar de modo mais concreto nas análises.

     Para compreendê-la, convém partir de uma noção estrutural e se é que se pode dizer, existencial da significação símbolo.

     Um dos pontos que pareceria dos mais controvertido da teoria analítica, a saber, o do suposto automatismo da repetição, foi magistralmente simplificado por Freud, ao mostrar como atua o primeiro domínio: a criança que elimina, por desaparecimento seu brinquedo. Esta repetição primitiva, essa escansão temporal, que faz com que a identidade de objeto seja mantida na presença e na ausência, nos dá a dimensão e o significado do símbolo na medida em que se refere ao objeto, quer dizer, ao que denominamos o conceito.

     Ora, aí encontramos ilustrado algo que parece bastante obscuro quando lemos em Hegel: "o conceito é o tempo”. Seria necessário uma conferência de uma hora para demonstrar que o conceito é o tempo. (Coisa curiosa, Hyppolite, que trabalha a "Fenomenologia do Espírito," se contentou em fazer uma nota dizendo que isto era um dos pontos mais obscuros da teoria de Hegel).

     Aí tocamos em algo muito simples, que consiste em que o símbolo do objeto é justamente "o objeto aqui”. Quando ele não está mais, é o objeto encarnado em sua duração separado de si mesmo, e que por isso mesmo pode estar, de certa maneira, sempre presente, sempre aí, sempre à sua disposição. Reencontramos ali a relação que há entre o símbolo e o fato de que tudo o que é humano é considerado como tal, e quanto mais humano, mais preservado, se é que se pode dizer, do aspecto motor e desordenador do processo natural. O homem, antes de tudo, faz subsistir em uma certa permanência tudo o que tem durado como humano.

     Reencontramos um exemplo. Se houvesse querido tomar por outra via o problema do símbolo, em lugar de partir da palavra, ou do pequeno feixe, haveria partido do túmulo sobre a tumba do chefe ou sobre a tumba de qualquer um. O que caracteriza a espécie humana é, justamente, o fato de rodear o cadáver com algo que constitui uma sepultura, manter o fato de que "isto permanece”. O túmulo, ou não importa que outro signo de sepultura, merece com toda a precisão o nome de símbolo, de algo humanizante. Conceituo como símbolo tudo aquilo cuja fenomenologia tentei mostrar hoje. É por que, se lhes aponto isto não é sem razão, pois a teoria de Freud avança até a noção de pulsão de morte, e todos os que, a posteriori, enfatizando somente o elemento da resistência, quer dizer, o elemento da noção imaginária na experiência analítica, anulando mais ou menos a função simbólica da linguagem, são os mesmos para quem a pulsão de morte é algo que não tem razão de ser.

     Esta maneira de “realizar”, no sentido próprio do termo, de retroceder a um certo real da imagem – tendo certamente incluído como a função essencial um particular signo deste real – de retroceder ao real a expressão analítica, está sempre presente entre aquilo que carece deste registro, correlativamente à colocação entre parênteses (leia-se exclusão) do que Freud denominou pulsão de morte, ou que denominou, mais ou menos, automatismo de repetição.

     Em Reich, isso é característico. Para Reich, tudo o que o paciente conta é “flatus vocis”, a maneira como a pulsão mostra a sua armadura. Ponto que é significativo, muito importante, mas na medida em que é colocada entre parênteses toda esta experiência enquanto simbólica, a pulsão de morte fica excluída, colocada entre parênteses. Logicamente este elemento de morte não se manifesta só no plano do símbolo. Vocês sabem que se manifesta no que é o registro narcisista. Mas se trata de outra coisa muito mais próxima a este elemento de aniquilação final, ligada a todo tipo de deslocamento. Podemos conceituá-lo. A origem, a fonte, como foi indicado a propósito dos elementos deslocados, não está na possibilidade de transação simbólica do real; mas sim é, ao mesmo tempo, algo que tem muito menos relação com o elemento duração, enquanto concebo o porvir enquanto o essencial do comportamento simbólico como real.

     Vocês notam, estou tendo que ser um pouco rápido. Há muitas coisas a dizer em tudo isto. E é certo que a análise de noções tão diferentes como as de resistência de transferência, transferência como tal.... abre a possibilidade de compreender o que é necessário chamar propriamente transferência e deixar a noção de resistência. Creio que tudo isto pode facilmente inscrever-,se com relação às, noções fundamentais do simbólico e do imaginário.

     Quisera simplesmente, para terminar, ilustrar de alguma maneira (é sempre necessário dar uma pequena ilustração do que se fala) dar-lhes algo que não é mais que uma aproximação a respeito dos elementos de formalização que desenvolvemos mais profundamente com meus alunos do seminário (por exemplo no Homem dos Ratos). Podemos chegar a formalizar, com a ajuda dos elementos como os que vou indicar. Isto é algo que lhes mostrará o que quero dizer.

     Era aí como uma análise poderia, muito esquematicamente, insertar-se desde seu início até o final: rS-rI-ir-iS-sS-sI-SR-iR-rR-rS: realizar o símbolo.

     Este é o ponto de partida: o analista é um personagem simbólico como tal; e é a este título que se o consulta, posto que é, ao mesmo tempo, o símbolo de toda potência, é uma autoridade, o amo. É nesta perspectiva que o sujeito o encontra, colocando-se em uma certa postura que é aproximadamente esta: “é você que tem minha verdade”, postura completamente ilusória, mas típica.

     rI: - depois teremos a realização da imagem.

     Quer dizer, a instauração mais ou menos narcisista na qual o sujeito entra numa conduta que é justamente analisada como resistência. Em virtude de quê? De uma relação iI.

     iI: imaginação

     imagem

     É a captação da imagem essencial constitutiva de toda realização imaginária, enquanto a consideramos como instintiva; esta realização da imagem é que faz com que a espinocha fêmea seja atraída pelas mesmas cores que a espinocha macho e as duas entrem progressivamente numa certa dança que as leva vocês já sabem onde.

     O que é que a constitui na experiência analítica? Coloco-a no momento, dentro de uma círculo (cf. mais adiante).

     Depois disso temos:

     iR: O que é a continuidade da transformação precedente: I é transformado em R.

     É o que se faz de resistência, de transferência negativa, ou ainda, no limite, de delírio, que há na análise. É de certa maneira o que os analistas tendem a definir: "a análise é um delírio bem organizado", fórmula que tenho ouvido da boca de meus mestres, que é parcial, porém não inexata.

     E depois, que acontece? Se o final é bom, se o sujeito não tem todas as div,posições para ser psicótico (em cujo caso permanece no estádio iR), passa a:

     iS: a imaginação do símbolo.

     Imagina o símbolo. Temos, na análise, mil exemplos da imaginação do símbolo. Por exemplo: o sonho; o sonho é uma imagem simbolizada.

     Aqui intervém:

     sS: que permite a subversão.

     Que é a simbolização da imagem.

     Dito de outro modo, o que denominamos "a interpretação".

     Isto logo após o franqueamento da fase imaginária que aproximadamente engloba:

     rI-iI-iR-iS -; começa a elucidação do sintoma pela interpretação (sS).

     SI -

     Logo temos:

     -SR que é, em suma, a meta de toda saúde, e que não consiste (como se acredita) em adaptar-se a um real mais ou menos bem definido, organizado, senão em fazer reconhecer sua própria realidade; em outras palavras, seu próprio desejo.

     Como tenho muitas vezes sublinhado, fazê-lo reconhecer por seus semelhantes, quer dizer, simbolizá-los.

     Neste momento, reencontramos:

     -rR.

     O que nos permite chegar, afinal, ao:

     rS.

     Que é exatamente o ponto de onde partimos.

     Não pode ser de outra maneira, posto que o analista é humanamente válido, não pode ser mais que circular. E uma análise pode percorrer várias vezes este ciclo.

     iI - é a parte própria da análise, é o que se denomina (sem razão) “a comunicação dos inconscientes".

     O analista deve ser capaz de compreender o jogo que joga seu sujeito. Deve compreender que ele mesmo é a espinocha macho ou fêmea, segundo a dança que faz seu sujeito.

     O sS é a simbolização do símbolo. É o analista que deve fazê-la. Não há dificuldade: ele mesmo é, desde o início um símbolo. É preferível que o faça com totalidade, cultura e inteligência. É por isso que é preferível, que é necessário que o analista tenha uma formação tão completa quanto possível na ordem cultural. Quanto mais vocês saibam, mais lhes servirá. E isto (sS) não deve intervir senão depois de um certo estádio, depois de uma certa etapa franqueada.

     E em particular, é neste registro (não é à-toa que destaquei) que o sujeito forma sempre uma certa unidade mais ou menos sucessiva, cujo elemento essencial se constitui na transferência. E o analista vem simbolizar o supereu, que é o símbolo dos símbolos. O supereu é simplesmente uma palavra que não diz nada (uma palavra que proíbe). O analista não tem nenhuma dificuldade para simbolizá-la. É precisamente o que faz.

     O rR é seu trabalho, impropriamente designado com a expressão de "benévola neutralidade", da qual se fala sempre, e que simplesmente quer dizer que, para um analista, todas as realidades são equivalentes; que todas são realidades. Isto parte da idéia de que tudo o que é real é racional e vice-versa. É o que lhe deve dar essa benevolência contra a qual vem romper-se a resistência e lhe permite levar a bom termo a sua análise.

     Tudo isso foi dito um pouco rapidamente.

     Poderia ter-lhes falado de outras coisas. Porém, no fim, isto não é mais que uma introdução, um prefácio do qual tentarei tratar mais completamente, mais corretamente, o informe que espero dar-lhes em Roma, sobre o tema da linguagem na Psicanálise.



Tradução: Maria Sara I-I. Gomes Silvia Mangaravite

* Este texto foi publicado em Papéis, n.4, abril de 1996




quinta-feira, 15 de junho de 2017

O que é metafísica?

Por que alguma coisa pode mudar e, no entanto conservar sua identidade individual de tal maneira que podemos dizer que é a mesma coisa,ainda que vejamos diferente do que fora antes? Como sabemos
que uma determinada roseira é a mesma que,no ano passado,não se passava de um ramo com poucas folhas e sem flor? Como sabemos que Paulo, hoje é adulto,é o mesmo Paulo que conhecemos crianças.

Por que sinto que sei que sou diferente das coisas? Porém,por que também sinto que sei que um outro corpo,diferente ao meu,não é uma coisa,mas um alguém?

Por que eu e o outro podemos ver de modo diferente,sentir e gostar de modo diferente,discordar sobre tantas coisas, fazer coisas diferentes e,no entanto admitimos,sem sombra de dúvida,que um triângulo, o número 5,os arcos,ad pirâmides são exatamente a mesma coisas para ele e para mim?
O que é uma coisa?E um objeto? O que é subjetividade?O que é o corpo humano?E uma consciência?

Perguntas como essas constituem o campo da metafísica,ainda que nem sempre as mesmas palavras tenham sido usadas para fórmula-las.
Por exemplo,um filósofo grego não falaria em "nada" ,mas em "Não ser". Não falaria em "objeto ",mas em "ente",pois a palavra  OBJETO só foi usada a partir da Idade Média e,no sentido em que empregamos hoje,só foi usada depois do século XVII.

Também não falaria em "consciência", mas em psyché, isto é, em "alma".Jamais falaria em "subjetividade",pois essa palavra,com o sentido que lhe damos hoje foi usada a partir do século XVIII. A mudança do vocabulário da filosofia no curso dos séculos indica que mudaram os modos de formular as questões e respondê-las, pois a filosofia está na história. No entanto,sob essas mudanças profundas,permaneceu a questão metafísica fundamental: O que é?

A metafísica é a investigação filosófica que gira em torno da pergunta "O que é? ". Esse "é" possui dois sentidos:

1-significa "existe",de modo que a pergunta se refere à existência da realidade e pode ser transcrita como: "O que existe?";

2-significa "natureza própria de alguma coisa",de modo que a pergunta se refere à essência da realidade podendo ser transcrita como: "Qual é a essência daquilo que existe?"

Existência e essência da realidade em seus múltiplos aspectos são,assim,os temas principais da metafísica,que investiga os fundamentos,os princípios e as causas de todas as coisas e o ser íntimo de todas as coisas,indagando por que existem e por que são o que são.

A história da metafísica pode ser dividida em três grandes períodos,o primeiro deles separado dos outros dois pela filosofia de David Hume:

1-período que vai de Platão e Aristóteles  (séculos IV e III a.C ); até David Hume (século XVIII );

2-período que vai de Kant  (século XVIII); até a fenomenologia de Hurssel (século XX );

3-metafísica ou ontologia contemporânea século XX.

No primeiro período,a metafísica possui as seguintes características:

1-investiga aquilo que é ou existe,a realidade em si;

2-é um conhecimento racional aprioristico isto é não se baseia nos dados conhecidos diretamente pela experiência sensível ou sensorial (nos dados empíricos ),mas nos puros conceitos formulados pelo pensamento puro ou pelo intelecto.

3-é um conhecimento sistemático,isto é, cada conceito depende de outros e se relaciona com outros,formando um sistema de idéias ligadas entre si;

4-exige a distinção entre ser e parecer ou entre realidade e aparência,seja porque,para alguns filósofos,a aparência é irreal e falsa,seja porque, para certos filósofos, a aparência só pode ser compreendida e explica pelo conhecimento da realidade que subjacente a ela.

Esse primeiro período da metafísica termina quando Hume explica que os conceitos metafísicos não correspondem a nenhuma realidade externa,existente em si mesma e independente de nós,mas são meros nomes gerais para as coisas,nomes que nos vêm pelo hábito mental ou psíquico de associar em idéias as sensações,as percepções e as impressões dos sentidos,quando são constantes,frequentes e regulares.

O segundo período tem seu centro na filosofia de Kant,que demonstra a impossibilidade dos conceitos tradicionais da metafísica para alcançar e conhecer a realidade em si das coisas. Em seu lugar,Kant propõe que a metafísica seja o conhecimento de nossa própria capacidade de conjecer__seja uma crítica da razão pura teórica __,tomando a realidade como aquilo que existe para nós enquanto somos sujeito do conhecimento.

A metafísica poderá continuar usando o mesmo vocabulário que usava tradicionalmente,mas o sentido conceitual das palavras mudará totalmente,pois se não se refere ao que existe em si e por si,mas ao que existe para nós e é organizado por nossa razão. Embora com muitas diferenças Hurssel trilhará um caminho próximo ao de Kant.

A metafísica contemporânea chamada de ontologia procura superar tanto a antiga metafísica quanto a concepção kantiana. Considera o objeto da metafísica a relação originária mundo-homem. Suas principais características são :

1-investiga os diferentes modos como os entes ou os seres existem;

2-investiga a essência ou o sentido e as estruturas desses seres;
   
3-investiga a relação necessária entre a existência e a essência dos entes e o modo como aparecem para nossa consciência,manifestação que se dá nas várias formas em que a consciência se realiza (percepção, imaginação, memória,linguagem,intersubjevidade, reflexão,ação, política, artísticas,técnicas );

4-alguns consideram que a metafísica ou a ontologia contemporânea devia ser chamada de "Descritiva", porque,em vez de oferecer uma explicação causal da realidade,é uma descrição das estruturas do mundo e do nosso pensamento.

Porque a pergunta inicial tinha pressuposto a existência da realidade exterior ao pensamento,costuma-se dizer que a filosofia nasceu como um realismo e desse realismo surgiu a metafísica.

 

domingo, 11 de junho de 2017

As concepções de Aristóteles e Jean Paul Sartre

  A primeira grande teoria da liberdade é exposta por Aristóteles em sua obra "Ética a Nicômaco" e ,com variantes, permanece através dos séculos chegando até o século XX,  quando foi retomada por Sartre. Nessa concepção, a liberdade se opõe ao que é condicionado externamente  (necessidade ) e ao que acontece sem escolha deliberada(contigencia).
  Diz Aristóteles que é livre aquele que tem a si mesmo o principio para agir ou não agir.
  A liberdade é concebida como poder pleno incondicional da vontade para determinar a si mesma, isto é,  para autodetermina-se.    
  É pensada,também,como capacidade que não encontra obstáculos para se realizar nem é forçada por coisa alguma para agir. Trata-se da espontaneidade plena do agente.
  Além de distinguir entre o necessidade e o contingente, Aristóteles também distingue entre o contingente e o possível : o primeiro é o puro acaso; o segundo é o que pode acontecer desde que um ser humano delibere e decida realizar uma ação.  Assim na concepção aristotélica, a liberdade é o princípio para escolher entre alternativas possíveis, realizando-se como decisão é ato voluntário.
  Contrariamente ao necessário ou à necessidade e a contigencia, sob as quais o agente sofre a ação de uma causa externa que o obriga a agir de uma determinada maneira, no ato voluntário livre o agente é causa de si, isto é,  causa integral de sua ação. Sem dúvida, pode-se-ia dizer que a vontade livre é determinada pela razão ou pela inteligência e, nesse caso, seria preciso admitir que não é causa de si ou incondicionada, mas que é causada pelo raciocínio ou pelo pensamento.
  No entanto, como disseram os filósofos posteriores a Aristóteles, a inteligência inclina a vontade para uma certa direção, mas não obriga nem a constrange, tanto assim que podemos agir na direção contrária à indicada pela inteligência ou razão.  É por ser livre e incondicionada que a vontade pode seguir concelhos da consciência.  A liberdade será ética quando o exercício da vontade estiver em harmonia com a direção apontada pela razão.
  Em sua obra "O ser e o nada " , o filósofo francês Jean Paul Sartre levou essa concepção ao ponto limite.  Para ele ,a liberdade " é a escolha incondicional que o próprio homem faz de seu mundo ". Quando julgamos estar sob o poder de forças externas mais poderosas do que a nossa vontade,  esse julgamento é uma decisão livre, pois outros homens, nas mesmas circunstâncias não se curva o nem se resignaram.
  Em outros termos, para Sartre, conformar-se ou resignar-se é uma decisão livre, tanto quanto não se resignar nem se conformar, lutando contra as circunstâncias. Quando dizemos que não podemos fazer alguma coisa porque estamos fatigados, a fadiga é uma decisão nossa, tanto assim que outra pessoa, nas mesmas circunstâncias, poderia decidir não se sentir cansada e agir. Da mesma maneira, quando dizemos estar enfraquecidos e por isso não temos forças para fazer alguma coisa, a fraqueza é uma decisão nossa, pois um outro poderia,nas mesmas circunstâncias, não se considerar fraco e agir.
  Por isso, Sartre faz uma afirmação aparentemente paradoxal, dizendo que "estamos condenados à liberdade ".Qual paradoxo? Identificar "liberdade e condenação ", isto é ,dois termos incompatíveis ,pois é livre quem não está condenado.
  O que Sartre pretende dizer? Que, para os humanos, a liberdade é como a necessidade e a fatalidade, não podemos escapar dela. É ela que define a humanidade dos humanos, sem escapatória.

sábado, 10 de junho de 2017

Em busca de uma definição da Filosofia

Quando começamos a estudar filosofia, somos logo levados a busca o que ela é. Nossa primeira surpresa surge ao descobrimos que não há apenas uma definição da filosofia, mas várias. A segunda surpresa ocorre quando percebemos que, além de várias as definições não parecem poder ser reunidas numa só e mais ampla. Eis porque muitos, cheios de perplexidade, indagam: "Afinal, o que é a filosofia que nem sequer consegue dizer o que ela é?"
Uma primeira aproximação nos mostra pelo menos quatro definições gerais do que é filosofia:
1,Visão de mundo de um povo, de uma civilização ou de uma cultura. Nessa definição, a filosofia corresponderia, de modo vago e geral ,ao conjunto de idéias, valores e práticas pelos quais uma sociedade apreende e compreende o mundo e a si mesma, definido para si o tempo e o espaço, o sagrado,e o profano,o bom e o mau,  o justo e o injusto, o belo e o feio , o verdadeiro e o falso,o possível e o impossível,  o contingente e o necessário.
Qual o problema dessa definição?  Por um lado ela se parece com noção de "minha filosofia " ou "a filosofia da empresa "; por outro ,ela é tão genérica e ampla que não permite, por exemplo,  distinguir entre filosofia e religião, filosofia e arte, filosofia e ciência. Na verdade essa definição da filosofia, mas apenas como uma expressão que contém ou indica alguns aspectos que poderão entrar na sua definição.
2,Sabedoria e vida. A filosofia é identificada com a atividade de algumas pessoas que pensam sobre a vida moral ,dedicando-se a contemplação do mundo e dos outros seres humanos para aprender e ensinar os outros a controlar seus desejos ,sentimentos e impulsos e a dirigir sua vida de modo ético e sábio. 
 A filosofia, nessa definição, uma escola de vida ou uma arte do bem viver; seria uma contemplação do mundo e dos homens para nos conduzir a uma vida justa,sábia é feliz, ensinando-nos o domínio de nós mesmos,sobre nossos impulsos,  desejos e paixões. Essa definição, porém, nos diz ,de modo vago, o que se espera da filosofia  (a sabedoria interior), mas não o que é e o que faz a filosofia é, por isso,  também não podemos aceitá-la, mas apenas reconhecer que nela está presente um dos aspectos do trabalho filosófico.
3, Esforço racional para conceber o Universo como uma totalidade ordenada e dotada de sentido. Nessa definição, atribui-se à filosofia a tarefa de conhecer a realidade inteira, provando que o Universo é uma totalidade, algo estruturado ou ordenado por relações de causa e efeito, e que essa totalidade é racional ,ou seja ,possui sentido e finalidade compreensíveis ao pensamento humano.
 Os que adotam essa definição precisam começar distinguindo filosofia e religião e até mesmo opondo uma a outra, pois ambas possuem o mesmo objeto (compreender o Universo ). Mas a primeira o faz por meio e esforço racional ,enquanto a segunda,  por meio da confiança  (fé) numa revelação divina. Ou seja ,a filosofia procura discutir até o fim do sentido e o fundamento da realidade, enquanto a consciência religiosa se baseia num dado primeiro e inquestionável, que é revelação divina, objeto de fé e indemonstravel pela e para razão humana.
 Pela fé, a religião aceita princípios indemonstraveis e até aqueles considerados irracionais pelo pensamento ,enquanto a filosofia não admite a indemonstrabilidade e a irracionalidade de coisa alguma. Pelo contrário, o pensamento filosófico procura explicar e compreender mesmo que parece irracional e inquestionável. No entanto essa definição também é problemática, porque dá à filosofia tarefa de oferecer uma explicação é uma compreensão totais do Universo,  elaborando um sistema universal; mas sabemos, hoje,  que essa tarefa é impossível.
 É verdade que, nos seus primórdios, a  filosofia se apresentava como uma explicação total sobre a realidade, pois ela não viera substituir a explicação religiosa,como também constituía o conjunto de todas as ciências teóricas e práticas  (Não havia distinção entre filosofia e ciência ). No entanto, há nos dias de hoje pelo menos duas limitações a essa prevenção totalizadora: em primeiro lugar, a filosofia e as ciências foram se separando ao decorrer da história, e o saber científico se dividiu em vários saberes particulares ,cada qual com seu campo próprio de investigação e explicação de um aspecto da realidade.
 Em outras palavras, a filosofia compartilha a explicação da realidade com as ciências e as artes,pois cada uma delas define um aspecto e um campo da realidade para estudo (no caso das ciências ) e para expressão  (no caso das artes) ,não sendo admissível que haja uma única disciplina teórica que possa abranger sozinha a totalidade dos conhecimentos ou o conhecimento total do universo.
 Em segundo lugar por que a própria filosofia já não admite que seja possível um único sistema de pensamento que ofereça uma única explicação para todo da realidade, pois esta permanece aberta e convida a múltiplas perspectivas de conhecimentos e interpretações. Por isso essa definição também não pode ser aceita ,embora contenha aspectos importantes da atividade filosófica.
4,Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas. Sob esta perspectiva ,fundamentar significa "encontrar, definir e estabelecer as causas e condições que determinam a existência,  a forma e os comportamentos de alguma coisa, bem como leis ou regras de suas mudanças. 
 Como sabe-se crítica é uma palavra grega significa "capacidade para julgar  ,discernir, corretamente;  o exame racional de todas as coisas sem preconceito e sem pré-julgamento" e "atividade de examinar avaliar detalhadamente uma idéia, um valor ,um costume, um comportamento, uma obra artística ou científica" . A Fundamentação crítica significa, portanto, " examinar ,avaliar, e julgar racionalmente os princípios, as causas e condição de alguma coisa  (de sua existência, de seu comportamento, de seu sentido,  e de suas mudanças)".
Com Fundamentação teórica e crítica,  a filosofia ocupa-se com os princípios, as causas  e condições do conhecimento que pretenda ser racional (Verdadeiro) valores éticos, religiosos e morais (Bom) e respeito ,moral e justo (Belo) com princípios as causas e condições das transformações históricas dos conceitos , das idéias, dos valores e práticas humanas.

"Agradecimento a Comunidade ; Filosofia O verdadeiro, o Bom e o belo "

O que é Ser feliz ?

 Para o grego Aristóteles, a felicidade diz respeito ao equilíbrio e harmonia praticando o bem; para o também grego, Epicuro, a felicidade ocorre através da satisfação dos desejos; Pirro de Élis também acreditava que a felicidade acontecia através da tranquilidade. Para o filósofo indiano Mahavira, a não violência era um importante aliado para atingir a felicidade plena.

Os filósofos chineses também pesquisaram sobre a felicidade. Para Lao Tsé, a felicidade poderia ser atingida tendo como modelo a natureza. Já Confúcio acreditava na felicidade devido à harmonia entre as pessoas.

   Se existe felicidade quais são seus efeitos colaterais?
   É uma questão de complexidade para se responder o que realmente é felicidade,  para uma criança ter um brinquedo que ela cogita é ser feliz por exemplo....cada filósofo ao decorrer da história da filosofia se aprofundaram e estudaram o valor da felicidade.
   Isso quer dizer que a concepção de felicidade é individual cada ser escolhe o caminho de sua satisfação material,Espiritual, sentimental, dolorosa, ou física, .O efeito colateral da felicidade é um misto de sensações,  mas logo ela não é tão duradoura, pois algo que nos deixam satisfeitos  um dia deixa de existir ; por quê?
  As pessoas que nos fazem companhia morrem.
  Um bem material quebra.
  A depressão ,as perdas físicas ou materiais... são consequências da vida , a concepção de felicidade é algo íntimo e individual,
cada ser humano tem suas opiniões formadas do que é felicidade.
  E o que é ser feliz pra você?
  Isso só resta a cada um de nós definir nossa própria concepção da felicidade.



Neo Matrix


 Se voltarmos ao filme Matrix, podemos perguntar porque ali foi feito o paralelo entre Neo e Sócrates. Conhecemos pelo nome das duas personagens masculinas principais: Neo e Morfeu. Esses nomes são gregos. Neo significa "novo" ou "renovado" e quando dito de alguém significa "jovem na força e no ardor da juventude".
  Morfeu pertence a mitologia grega: era o nome de um espírito, filho do sono e da noite, que possuía asas e era capaz, num único instante, de voar em absoluto silêncio para as extremidades do mundo. Esvoaçando sobre um ser humano ou pousando levemente sobre sua cabeça,tocando-o com uma papoula vermelha, tinha o poder não só de fazê-lo adormecer e sonhar, mas também aparece-lhe no sonho, tomando a forma humana. É dessa maneira que,no filme,  Morfeu se comunica pela primeira vez com Neo, que desperta assustado com o ruído da mensagem na tela de seu computador. E, no primeiro encontro de ambos ,Morfeu surpreende Neo por sua extrema velocidade, por ser capaz de voar ou parecer saber tudo a respeito desse jovem que não o conhece.
  Várias vezes Morfeu pergunta a Neo se este tem a mesma impressão de estar dormindo e sonhando, sem nunca ter certeza de estar realmente desperto. Essa pergunta deixa de ser feita a partir do momento que, entre uma pílula azul e uma pílula vermelha  ( como papoula na mitologia ), que o fará ver a realidade. É Morfeu quem lhe mostrar a Matrix ( Matrix palavra derivada do latim, mater quer dizer "mãe ".Matrix é o órgão das fêmeas dos mamíferos onde o embrião é formado e o feto se desenvolve,.Na linguagem técnica matriz é o molde para fundição de uma peça, circuito ou codificadores e decodificadores das cores primárias e dos sons da informática como na rede como mostra no Filme Matrix ) fazendo -o compreender que passou a vida inteira sem saber se estava desperto ou se dormia e sonhava porque ,realmente,  esteve sempre dormindo e sonhando.
  Qual o poder de Matrix?  Usar e controlar a inteligência humana para dominar o mundo ,criando uma realidade virtual na qual outros acreditam. A Matrix é o feiticeiro ,a inteligência humana só subsiste sugando o sistema nervoso dos humanos.
  Antes que a palavra computador fosse usada corretamente, quando só havia as enormes máquinas militares e grandes empresas, falava-se em "cérebro eletrônico ". Por quê?  Porque se trata de um objeto técnico diferente de todos aqueles conhecidos até então pela humanidade.
 De fato os objetos técnicos tradicionais ampliavam a força física dos seres humanos  (o microscópio e o telescópio aumentam a força dos olhos; o navio ,automóvel e o avião a força dos pés,  a alavanca ,polia ou o martelo a força das mãos ). Em contrapartida, o "cérebro eletrônico " ou computador amplia e mesmo substitui as capacidades mentais ou intelectuais dos seres humanos.
 A Matrix é o computador gigantesco que escravisa os homens, usando a mente deles para controlar seus sentimentos e pensamentos, fazendo-os crer que é real o que é aparente . Vencer o poder da Matrix é destruir a aparência, restaurar a realidade é assegurar que os seres humanos possam perceber e compreender o mundo verdadeiro e viver realmente nele. Todos os combates realizado por Neo e seus companheiros, são combates mentais entre centros de sensação, percepção e pensamento humanos e os centros artificiais de Matrix.  As armas e tiroteios que aparecem na tela são pura ilusão, não existem ,pois o combate real não é físico e sim mental.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Por que a natureza quer os seres vivos mortos?



  Imaginemos agora um nascimento de um novo membro na família,  ...um casal feliz e um bebê para criar ,alimentar e educar, ...Imaginemos a morte agora ,envelhecemos, nossos filhos casam, nossos companheiros morrem, e depois morremos? Quem se importa com a vaidade humana?  Seres humanos são meros animais vaidosos tudo se resume em uma frase : " um contrato de casamento importa mais que o amor;  a roupa mais que o corpo; o velório mais que o morto; e a missa mais do que Deus " . A negação e a vaidade exagerada faz com que os homens se diferencie de outros animais , mas em si é um animal sem que ele perceba , um cordão umbilical que unem as fêmeas de seu ventre será separado pela natureza, em caso dos homens os médicos ou as parteiras realiza o parto , pois diferente da evolução dos bichos, nós os humanos Nascemos prematuros ,não seria estranho um bebezinho saindo andando ? Só se ele fosse mutante ! ...agora imaginemos um cachorro,  ele nasce com dentes feitos , arrisca-se em movimentos para andar para que assim garantam sua sobrevivência , crescem os pelos de seu corpo pela única vontade de viver.
  Os humanos são preguiçosos em comparação aos outros animais, precisamos de um colo para mamar enquanto o macaquinho escala sob o corpo da mãe para se alimentar,  é até um insulto comparar o bicho preguiça ao bicho homem...
  Sua vaidade é tão grande a ponto de criar seres mitológicos ,deuses e presentear culto a essas deidades ,pedir por proteção, por atenção ou por um pouco de compaixão que seja.
  É até um absurdo os pais proibirem e abominar que seus filhos tenham amigos imaginários mas o idiota acredita em Deus por quê?   , pelo simples fato de que o ser humano ainda não aprendeu a viver sozinho....pelo simples fato dele ser o único animal que sabe que vai morrer, a vaidade humana é uma das coisas mais complexa que a filosofia não explica, mas por outro lado a natureza tira suas conclusões;  sabendo o homem de que um dia ele vai morrer ele simplesmente nega a morte , pelo fato da morte ser dolorosa , será que os cachorros e outros animais vão para o céu?   Só se fala dos homens em todas religiões nunca se fala do pobre cachorrinho de estimação.
   A grande realidade é que a natureza quer que nossos entes queridos se afastem da gente, para se viver uma vida individual, somos individualistas nenhum casal que se prese transa na casa dos seus pais, um casal que se prese abandonam seu bando ,para reproduzir o seu bando....Sexo é uma coisa que garante a sobrevivência da espécie,  para podemos ter nossos momentos íntimos nos despedimos dos nossos queridos pais.
   O maior sofrimento na vida das crianças é de perderem seus avós,  para confortamos pequenos corações tristes dizemos que foram para o céu estrelado cheios de fadas e duendes,  quando na verdade seus avós vão ser adubos na terra.
   Seria um inferno se fôssemos imortais o planeta não suportaria tanta gente, a vida em si é mera vaidade para os humanos ,é presenteado culto aos mortos que na realidade são adubos alimentando a terra ,pois a terra assim como nós humanos também têm fome...imaginemos que a natureza Faça de nós humanos como se fossemos o prato do dia,  as crianças na Serra Leoa seriam o aperitivo,  as pessoas que morrem de câncer o café da manhã,  as que morrem em um acidente o almoço,  as que morrem de AIDS a sobremesa, as que morrem pelo vírus o café da tarde,  na janta as que morrem nos hospitais, e a ceia , a Velhice.......Até a terra sente fome não é mesmo? É assim que a natureza funciona .....a natureza quer a gente morto.
 

Filosofia ; O Verdadeiro, O bom e o belo (Sobre a Comunidade )

Filosofia o bom o verdadeiro e o belo, surgiu com o intuito de passar a filosofia de vida de uma maneira simples e fácil sobre o entendiment...